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Novas estratégias de negócios para a nova concorrência
Giovani Cezar Varzin da Cruz
[email protected]
Doutorando em Economia e Sociedade
pela Universidade de Barcelona, Espanha.
Coordenador de Pós-Graduação e Extensão
da FAL
A tecnologia está redefinindo
a natureza da concorrência. As empresas - ao que parece -
estão ampliando seus campos de visão, compreendendo
que internet e outras tecnologias não tradicionais - as TICs
- apresentam um tipo e alcance de concorrência desconhecidas
para a maior parte das organizacões tradicionais.
Ainda que o surgimento da economia
digital esteja criando novas e emocionantes oportunidades, o turbilhão
que lhe acompanha está produzindo mudanças profundas,
cujo carácter está fundamentado na descontinuidade.
Os cômodos supostos sobre os
quais trabalham os estrategistas de negócios e que sob os
quais estavam acostumados a decidir, já não se aplica
mais: está cada dia mais difícil prognosticar como
serão no futuro os clientes, a comunidade e a própria
concorrêcia.
Estas redefinições remetem
a um novo contexto e ambiente de negócios, cujas regras mudam
mais rápido que a capacidade de responder as suas exigências,
aplicando métodos tradicionais de planejamento e solução
de problemas. Na falta de uma bola de cristal, somente podemos supor
que o futuro será diferente do presente. O quanto diferente,
está por se ver.
Por hora, deve ficar claro que as
organizações devem aprender a enfocar a mudança
de uma forma diferente e desenhar seu negócio para manejar
a incerteza. Todavia é fundamental que se aprenda que o primeiro
a mudar é nossa forma de ver a mudança. Para poder
lidar com este fato, é oportuno recordamos o pensamento de
Albert Einstein: "Sem mudar nossos padrões atuais de
pensamento, não poderemos solucionar os problemas que criamos
com nossos padrões atuais de pensamento."
Assim, a capacidade para prever o
futuro torna-se a ferramenta de apoio imprescindível para
qualquer negócio. Ainda que todos estejam de acordo com o
fato de que a economia digital influenciará difinitivamente
a estrutura de oferta de produtos e serviços, há muito
pouco consenso quanto a como e quando ocorrerá com exatidão.
Manejar a incerteza requer uma leitura
de cenário que projete e interprete uma ampla mostragem de
tendências tecnológicas, sociais, demográficas
e econômicas, na tentativa de entender e tentar prever o que
poderia ocorrer em cada cenário projetado.
O verdadeiro beneficio de prever o
futuro com base nesses cenários está em permitir a
quem toma decisões, pensar sobre qual a maneira de reponder
frente a um número diverso de eventualidades. Ou seja, desenhando
possíveis realidades, baseados nas tendências atuais,
os gestores organizacionais podem estabelecer as melhores estratégias
de ação para atuar em cada situação
futura e antecirpa-se a elas.
É oportuno que lembremos os
ensinamentos de Drucker : "Uma pessoa não pode tomar
decisões para o futuro; as decisões são compromissos
com a ação, e as ações se dão
sempre no presente e só no presente. No entanto, as ações
do presente também são a única forma de construir
o futuro".
A pesar de parecer contraditória
tal afirmação, devemos extrair o argumento fundamental:
é o desenho e forma de atuar no presente que fará
uma organização capaz de se manter no futuro.
No novo contexto da economia digital,
de acordo com Vincent P. Barabba em um texto entitulado De regresso
a cova de Platão, um negócio pode optar por dois tipos
de comportamento distintos: o do "faz-e-vende" e o de
"percebe-e-responde".
O primeiro é o paradigma mais
comum encontrado nos formatos de negócios atuais. Uma organização
do tipo "faz-e-vende" procura predizer o que o mercado
demanda, fabrica o produto ou serviço que julga equivalente
e sai a vendê-lo.
O segundo modelo, organizações
do tipo "percebe-e-responde" são aquelas que dizem
ao cliente "ajude-me a identificar suas necessidades e permita-me
que trabalhemos juntos para satisfazer-lo". Estas organizações
veêm-se a si mesmas como um sistema adaptado para responder
a solicitações impredizíveis. Se constroe baseada
em subprocessos conectados de maneira dinâmica e está
baseada em economias de alcance antes que em economia de escala.
As pessoas em um ambiente de "percebe-e-responde" recebe
poder e responsabilidade, e dedica seu tempo em produzir respostas
personalizadas para os clientes, de acordo com um desenho de negócios
adaptativo, flexível e dinâmico. E são estas
as condições ideais para operar e ter sucesso num
ambiente de transformações, cuja unica certeza é
a mudança.
Podemos hoje encontrar organizações
de todos os tipos atuando no mercado. Se imaginarmos uma escala
de continuos, em um extremo localizam-se as mais tradicionais organizações
do tipo "faz-e-vende"; com variações intermediárias
que mesclam formatos mais tradicionais com processos mais flexiveis
que podemos classificar como híbridas, até chegar
ao outro extremo do continuo, onde estão localizadas as organizações
do tipo "percebe-e-responde".
Independente de seu formato, cada
organização debe encontrar sua forma de ter resultados
satisfatórios e que garanta sua permanencia diante deste
novo contexto. Mas afinal, de que trata essa nova economia?
Lou Gerstner, CEO de IBM e executivo de prestigio (transformou IBM
de gigante em crise a modelo de êxito) observa que "muitos
executivos resistem em aceitar a idea de que há uma nova
economia". No entanto, deixa claro que o e-business está
aqui para ficar (a revolução começa de verdade
quando os "grandes" começam a internetizarse),
que ainda não vimos nada (a Internet que conhecemos hoje
não vai parecer primitiva dentro de cinco anos), e que de
fascinação por una infinidade de serviços ao
consumidor, passaremos ao verdadeiro objetivo, qual seja "a
integração de toda a empresa mediante tecnologias
de red".
Para Gerstner não tem sentido
falar de uma economia com "novas leis", mas também
debe ficar evidente que esta é uma economía onde a
inovação e o conhecimento (tecnológico e operacional,
de produtos e processos, de serviços e mercados) são
mais fundamentaies que nunca. O problema da "nova" economía
está, possivelmente, em que o termo "economía"
tem, na realidade, duas interpretações.
Por um lado, "economía"
é a "ciência da gestão dos recursos escasos";
uma disciplina com suas leis, seus teoremas, suas teorias e suas
investigações. No entanto, por otro lado, utilizamos
o termo "economía" para descrever e interpretar
o contexto econômico. Assim, quando falamos da economia de
um país nos referimos a como está a condição
para a produção e utilização de bens
e serviços. As leis da economia não mudam, mas o contexto
económico assume facetas que variam com o tempo. Então,
nesta linha, o que podemos dizer que mudou do contexto econômico?
Muito bem, o que temos aprendido durante os últimos anos
nos permite afirmar que o contexto sofreu transformações
em cinco pontos fundamentais:
1) Impacto das tecnologias na produtividade. O Governo norteamericano,
em seu informe TheDigitalEconomy 2000 afirmou que no período
1995-2000 a produtividade das empresas norteamericanas dobrou, passando
dos 1.4% anual em que havia estado estancada desde 1975 para 2.8%
anual. Ainda que não esteja claro as causas últimas
deste incremento, muitos opinam que se deve a incorporação
das tecnologías da informação, fato que vai
muito além da mera "automatização de rotinas",
pois teêm impacto direto no "aumento de nossas capacidades
intelectuais". Estão aparecendo, neste sentido, mais
e mais tecnologias que "podem" nos fazer mais eficientes,
seja no trabalho individual, de grupo ou organizacional. A teleconferência,
a simulação virtual e outras formas tecnologicas de
desempenho maiz eficaz do trabalho são apenas alguns dos
exemplos que podemos recorrer para ilustrar tais transformações.
2) A riqueza se deriva da exploração do conhecimento.
Se dirá que isto já é assim desde sempre. A
novidade é que resulta cada vez más difícil
lançar no mercado produtos ou serviços que não
sejam muito intensivos em conhecimento. M. Sawhney em um brilhante
artigo da Harvard Business Review de janeiro de 2001 resume tal
fato : nas redes atuais, a transmição de bits se converte
em uma commodity (um produto indiferenciado onde o preço
é o único discriminante), e a "inteligência"
se concentra na "periferia", ou seja, no extremo dos servidores
e dos clientes. Os produtos são cada vez mais inteligentes.
Vejamos, por exemplo, as pinturas com fragância que permitem
determinar pelo simples cheiro quando uma superfície metálica
(como una simple máquina de confeitar) está gasta;
ou as etiquetas que falam, pensadas para pessoas com dificuldades
de leitura. O surgimento da "nanotecnología", que
vai manipular a matéria átomo a átomo, vai
demonstrar claramente que os produtos intensivos em inteligência
são aqueles capazes de gerar márgens suficientes para
poder seguir inovando. A inovação permanente será
a estratégia principal. E para inventar o futuro, deveremos
sair do plano em que estamos fechados: só a perspectiva nos
permite ver o horizonte.
3) Os producos informacionais geram retornos crescentes. Diferente
de outros bens, o conhecimento aumenta de valor conforme se usa.
Na mesma linha, um produto informacional custa muito para se produzir,
mas muito pouco para se reproduzir. O "custo marginal"
de uma nova "cópia" deste texto que estáis
lendo agora, custa praticamente nada. No entanto, o original custou
algumas horas para confeccionar. Nesta economia onde o custo está
concentrado na geração dos originais, protejer-los
das cópias ilícitas é fundamental para o produtor,
se quizer recuperar seus importantes investimentos (não tem
nada mais difícil que fazer um usuário digital entender
que o que lhe chega em forma de bits tem um preço como qualquer
outro produto tangível).
4) Esta é uma economia da atenção. Enquanto
aumenta o ritmo de produção de informação
no mundo (existem dados que afirmam que se produz aproximadamente
10.000 artigos científicos por dia), nossa capacidade de
atenção não pode aumentar: só temos
24 horas por dia (e algumas reservamos para dormir, não é?).
Assim, um novo recurso escasso se agrega aos bens e ao dinheiro:
a atenção das pessoas. Isto tem implicações
nos intercâmbios econômicos produto-produto (o truque
típico da era agrícola), e no intercâmbio produto-dinhero
(no qual se baseia toda a economia atual). Junta-se a isso agora,
novos intercâmbios produto-atenção ou dinhero-atenção,
que não sabemos manejar muito bem (melhor: não temos
nem idéia). Não é estranho, pois, que a gestão
da atenção seja um dos temas críticos para
o futuro e que se escrevam livros sobre ela , e que haja webs dedicadas
a mesma .
5) Esta é uma economia em rede. O valor é gerado
por estar conectado. As empresas se comunicam em rede e geram estruturas
intermediárias entre a hierarquia e o mercado. O valor da
rede é proporcional ao quadrado do número de elos.
Napster tem (ou tinha?) um valor extraordinário para seus
usuários porque eram milhões os que o usavam, constituindo
a maior base de dados de música jamais imaginada. EBay mobiliza
a milhões de pessoas que transformam "passivos"
(produtos que já não necessitam) em "liquidez".
Em Seti@Home se unem outros milhões de pequenos processadores
de voluntários para constituir o maior computador do mundo,
com a finalidade de encontrar padrões inteligentes nos sinais
recibidos pelos radiotelescópios do mundo.
Tudo isto vai muito além do
capricho do Nasdaq, obviamente. Que fique claro o seguinte: uma
coisa é o que alguns querem fazer desta "economía"
e outra é o que vai evoluindo espontaneamente. A economía
do conhecimento, a chamada "infonomía", é
o futuro. E por sorte, não está submetida aos vai
e vem especulativos.
Thomas H. Davenport e John C. Beck. The Attention Economy: Understanding
the New Currency of Business. Havard Business School, may 2001.
http://www.attentionbook.com/index.html
http://www.setihome.com/
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